quinta-feira, dezembro 18

"tic - tac, time goes by...

hits me so suddenly/How you knock me off my feet/I'm the Queen of Apologys/Now I'm fighting this feeling /but it never stops, never stops/I'm still waiting/And I'm stuck with this feeling/will it ever stop, ever stop?/I keep trying/I blame no one, but myself/so honestly, is this how it's gonna be?/Tell me, who's the enemy?"


"Quem acredita sempre alcança."
"Querer é poder."
"Dinheiro não traz felicidade."

Eu não acredito em nada disso, em nenhum desses clichês. Quem acredita nem sempre alcança, essa é a verdade. Essa coisa de respirar determinação, correr atrás do que se quer e triunfar raramente funciona. Ganhamos de presente as juntas doloridas e dificuldade pra respirar, isso sim. É óbvio que há os que vencem... mas certas barreiras simplesmente não podem ser derrubadas. Alguns obstáculos são invencíveis, mesmo para os mais esperançosos e determinados. Daí chego fatalmente à conclusão de que querer não é poder. Se todos pudessem tudo o que querem... bem, o mundo não seria tal como é. O prêmio de querer demais e não poder é uma frustração dolorida. E não estou falando de um não poder banal, do tipo: "Mamãe me proibiu de fazer tal coisa". Falo de não poder porque não há meios de se poder. É como querer comer uma barra de chocolate e não poder porque se é diabético. Há saídas para isso, obviamente, como comer uma barra dietética, mas nunca é a mesma coisa. Substituir um querer completo por um quase poder nunca vai dar tanto prazer quanto um poder completo. E, mais uma vez, não estou falando do proibido... acho que talvez esteja falando do impossível. É, acho que estou escrevendo sobre isso mesmo. É. Daí vem eu não acreditar em "dinheiro não traz felicidade". Dependendo do que leva à felicidade, eu diria que ela é até comprável. Talvez dinheiro não acabe com todas as limitações, mas ele pode dar patins a quem tá correndo a pé. (ai, que horrível). E que ele não compra amor, bem, eu concordo. Mas o amor não compõe todas as peças do quebra-cabeça felicidade, não é?

Bem, eu poderia entrar agora no tema "o tempo passa rápido x quereres não plenos e pouco definidos e um tanto impossíveis", mas a verdade é que estou empolgada demais com um certo seriado e preciso desesperadamente vê-lo. Tenho aprendido muitos palavrões em inglês com ele, não que isso me vá ser de grande serventia. E o indefinível também me desgasta. Ultimamente tudo tem sido um grande e rançoso talvez e isso me irrita tanto que me dá alergia.

É, é.
Apenas queria escrever algo. Estava muito tempo sem postar nada aqui. Tenho escritos inacabados... cheios de talvez.

"Fugit irreparabile tempus". Nice, Shane!

segunda-feira, agosto 18

Apenas um parêntese mal empregado.

It takes more than a heartbeat to get me. Ok?



Atenção capturada por um livro.
Stella. Antha. Deirdre. Rowan.
Quase um vício.

domingo, agosto 3

Metade

Eu fiz aquilo porque tudo estava tão morno, entende? Você bem sabe como eu odeio o morno. Quente ou frio, pra mim nunca teve essa de morno, esse meio termo que debocha da minha cara por não ser nenhum nem outro. Ou você é ou você não é, foi assim que eu sempre pensei. Mentira, foi assim que eu sempre me exteriorizei... Mas hoje de manhã, como num clic, eu percebi que tenho vivido constantemente na corda bamba, morrendo de medo de cair para o lado errado. É como se aquele colchão que amortece a queda existisse em apenas um dos lados e, de lá de cima, eu não conseguisse ver nada lá embaixo, ou seja, cinqüenta por cento de chance de rachar a cabeça no chão cimentado contra cinqüenta por cento de chance de rir aliviado sobre um colchão de ar barato e azul médio, nem escuro nem claro. Metade, metade, metade, a odiosa metade. E eu não sabia que eu vivia na metade até hoje... e todos aqueles medos infundados que eu sempre tive, aqueles receios e temores indefinidos que me atormentam de lugar nenhum, bem, tudo isso é o medo que eu sinto de cair pro lado errado. É por isso que eu sempre odiei o meio termo sem saber ao certo o porquê de tamanho ódio; eu sempre estive, bem ali, no meio. E agora sei que sou morno, exatamente morno, metade quente, metade frio. Ah, por favor, não me venha com esse olhar convidativo agora, não vou lhe mostrar a minha metade quente. E não, não vou colocar a mão na sua testa pra ver se você está febril, eu sei muito bem ao que isso pode nos levar. Eu estou tentando lhe explicar por que fiz aquilo, eu preciso que você entenda, eu tenho necessidade que você me escute e tente entender... acho que eu nunca precisei tanto de algo na vida como preciso que você fique quietinha e sóbria agora e se dispa desse meio sorriso zombeteiro... nós somos iguais... você mesma disse isso naquela tarde lenta e oleosa em que comemos um cachorro quente estragado na esquina e passamos o resto do dia vomitando, lembra? É claro que você lembra, foi a primeira vez que você usou a estratégia de “Meu bem, acho que estou com febre. Veja se você acha o mesmo”. Ah, não venha me dizer que não é uma estratégia, uma tática. Eu até acredito que naquela tarde nojenta não tenha sido, mas em todas as outras vezes você sabe que foi uma atitude pervertida da sua parte. Tudo bem, vou continuar acreditando que você é a ingenuidade em pessoa. Mas por que estamos discutindo isso de novo? tem medo do que vou lhe contar, não é? Por isso você tenta desviar minha atenção. Eu queria que você tivesse um pouco mais de maturidade e tentasse me levar um pouco mais a sério. Eu estou com um problema, será que não percebe? Estou com um sério problema e pela primeira vez estou admitindo isso em voz alta, e estou contando isso a você... porque nós somos iguais... e, sinceramente, já cansei de repetir isso. E já cansei de você me olhando pela metade, me amando pela metade, me desprezando pela metade... Não, não vou começar a discutir a relação agora, eu sei muito bem qual será a sua atitude se eu fizer isso. Caramba, como você é ridícula, você tem mesmo necessidade que eu lhe diga? Pois bem, você vai prender os cabelos no alto da cabeça como se fizesse questão de deixar sua cara bem descoberta. Então vai sentar na minha frente e acender um cigarro... e enquanto eu falo e falo, você se comprai soltando fumaça em mim e pensando milhares de coisas nessa sua cabecinha sádica, milhares de piadinhas e deboches. E como eu sei isso? Seus olhos não mentem, não esses olhos grandes que expressam tudo mesmo que você esteja tentando esconder. Mas por que diabos estamos falando de você? Nossa, você realmente sabe fazer com que eu me perca numa conversa! Eu admiro isso, sabia? Mas, por favor, escute o que eu tenho a falar. Isso não é uma súplica... você me deve isso pelas vezes em que a agüentei falando coisas aleatórias e chorando pelas suas paixões de livros. Será que você não pode fazer isso depois, isso de experimentar esses casacos aí, e me escutar? Eu estou obcecado pela metade! Eu tento transformar desesperadamente tudo ao meu redor em meio termo. Chocolate “meio-a-meio”, café com leite igualmente dividido; só durmo e acordo em meias horas, dividi a cama em duas partes e só me deito se for do lado esquerdo. Eu como pela metade, eu durmo pela metade, acho que estou até respirando pela metade. Eu chorei pela metade a morte do meu pai, eu senti dor pela metade quando quebrei o braço, eu senti raiva pela metade quando a mulher com quem eu planejava casar e ter filhos disse não me amar mais. E, agora nesse momento, estou amando você pela metade. Quando eu a conheci eu percebi, só de conversar com você por alguns instantes, como você era inteira, completa, amargamente cheia, sem um vazio, sem um buraco sequer. Mesmo assim, eu descobri, com o tempo, que éramos iguais, apesar de você ser inteira e eu metade. Por que a metade faz parte de um todo, não? Então o fato de eu ser partido em dois não significa que eu não seja completo. E não foram raras as vezes em que eu quis partir você ao meio e amar só uma metade sua, porque a amar por inteiro é algo que eu achei nunca conseguir sendo só metade. Mesmo assim, eu consegui a amar mesmo você sendo assim, toda inteira, e isso me fez muito bem porque, de certa forma, eu esqueci daquela metade de mim que eu decidi não ser. Mas hoje de manhã tudo mudou, você entende? Ah, por favor, não me venha com essa voz manhosa por eu ter dito que a amo só pela metade. E não, não vou ver se você está com febre, não agora! Eu encontrei a minha outra metade, você está entendendo? E eu me lembrei que eu tinha decidido não ser essa outra metade porque ela é cruel e perversa. Por isso que eu tenho vivido pela metade, eu tenho vivido só com uma parte minha! E eu estou com medo, estou realmente com muito medo. Eu andei lendo sobre dupla personalidade em alguns livros, mas eu sei que não é isso... nem de longe é isso. Eu vi esse garoto na rua, sabe? E eu juro que eu vi ele partido em dois, eu vi as duas partes dele! Uma parte tão linda e serena e a outra tão monstruosa e medonhamente sedutora. Eu quis pegar uma tesoura e cortar ele ao meio, eu juro que eu quis fazer isso, eu desejei que ele fosse um boneco de papelão que eu pudesse rasgar ao meio. E foi assim que de repente eu me dei conta que eu não era metade, eu era inteiro, só que partido em dois, assim como aquele garoto. Eu tive consciência, acho que pela primeira vez, da existência dessa outra parte que eu vinha escondendo sabe-se lá aonde. E agora eu estou parado bem no meio e não sei pra que lado ir. E foi por isso que eu fiz aquilo, porque de repente ficou tudo tão morno... em nenhum extremo, tão no centro... e eu acho que eu sempre estive na linha do meio, só que não percebi... aquela questão de estar na corda bamba que lhe falei antes, sabe? Então hoje de manhã eu vi aquele menino... e fiquei atordoado... realmente assustado... e foi por ter ficado tão impressionado que eu decidi que era hora de pular da corda. E, num segundo, eu me vi andando na corda de olhos fechados, cada metade me empurrando para um lado e eu me equilibrando com dificuldade, tentando não pender pra nenhum lado, não espontaneamente... e de repente comecei a ouvir gritos e mais gritos e não consegui mais me concentrar, sabe? Então eu abri os olhos e , caramba, eu estava caminhando sobre o telhado de uma casa enorme, aqueles telhados em forma de triângulo, eu estava caminhando bem no meio... e eu não sei até agora como fui parar lá, como eu subi até lá, só sei que era muito, muito alto, e que, não importa o lado pro qual eu caísse, eu ia me espatifar no chão! Não havia colchão de ar azul médio, só o cimento onde eu ia rachar a minha cabeça! E agora todo mundo pensa que eu quis me matar, que eu quis quebrar todos os meus ossos lá embaixo... acho que até você pensa isso. Não, você não pensa assim, não você, minha igual. Mas eu estou com medo, por isso estou aqui falando com você... e se eu quis mesmo? E se eu quis pular de verdade... quer dizer, eu me vi na corda, eu queria pular, mas eu não sabia que eu estava a metros de altura! E se as minhas metades, ao se unirem, não se entrelacem, não se suportem? Eu não sei qual é a mais forte, mas uma delas ia me derrubar se os bombeiros não tivessem chegado a tempo, eu sei que isso ia acontecer. Merda, por que você está falando dessa história de febre de novo? Por que você não me diz nada sobre tudo isso que falei agora, você não acha que eu estava querendo me matar, não é? Caramba, se você precisa tanto disso, eu vou aí verificar se você está com febre, mas é bom que você esteja mesmo, me desculpa, mas você me irrita. Espero que você esteja bem doente. Você promete tentar me dizer o que você entendeu disso tudo depois? Me promete, senão não vou tocar nessa sua testa que sustenta esses olhos que fazem escárnio de mim. Você sabe aonde isso vai nos levar...


(...)


Meu bem, o que eu entendi disso tudo é que o chá que você tomou hoje de manhã era alucinógeno. Eu lhe disse, meu querido, meus chás são assim, você sabe, mas você insistiu em beber. O menino partido em dois era o nosso vizinho, aquele que tem metade do cabelo roxo e metade vermelho, por isso você achou que ele tinha duas metades. Eu realmente não sei como você foi parar naquele telhado, mas confesso que fiquei abismada quando sua mãe me ligou chorando e disse que você tinha tentado se matar. Mas eu o conheço, sei que você não faria isso. É verdade, meu bem, você nunca foi inteiro, você está rachado bem ao meio, já conversamos sobre isso. E também já chegamos á conclusão de que nem por isso você deixa de ser inteiro. É isso o que eu penso dessa história toda. Só lhe digo que é bom você parar de me amar pela metade, senão você nunca mais vai ouvir a palavra febre vinda da minha boca, entendeu? Agora vou fazer um chazinho, você quer? Bem, acho que não, não é?



Ele caiu da corda bamba alguns anos depois... e até hoje não sei pra qual lado ou qual metade era mais forte. Só sei que havia concreto lá embaixo, concreto pintado de azul médio. Que lástima. E que ironia, não? Minha mente borbulha com piadinhas e deboches só de pensar nisso. Bem, depois dessa, nunca mais ofereci meus chás a ninguém, nem mesmo a pessoas inteiras, não partidas ao meio. Pensei ter me ouvido rachar um dia desses, mas nada senti. Bem, deve ser culpa dos chás.

sexta-feira, julho 25

Um tanto pra chegar em nada.

Estou de férias e, minha nossa, como eu gosto de estar de férias! Tem dias que eu penso que nasci pra ser madame. Não que madame não faça nada, mas madame tem a opção de fazer nada. Não que eu não possa escolher fazer nada - sempre se pode optar por isso - mas eu tenho que fazer algo da vida - e bem no fundinho, acho que eu preciso de "hey, daiane, você não é inútil" para calibrar o meu ego.
Mas eu realmente aprecio acordar tarde (mesmo que isso me deixe com mais sono e com dores no corpo), não sentir dor de cabeça por não ter dormido tanto quanto meu organismo necessita (e, sim, ele necessita mais que oito horas de sono), passar uma hora ou mais sentada na rua ou no meu quarto, apenas ouvindo música, sem ficar pensando "tenho coisas a fazer, tenho coisas a fazer e não vai dar tempo". Enfim, eu gosto de ficar em casa nas férias, com as minhas coisas, com a minha preguiça. E pra eu criar coragem de me arrumar e sair de casa, bem, o programa dever ser realmente bom. Na verdade, não basta ser bom, porque até o bom me dá preguiça. Eu apenas preciso estar com vontade de sair da inércia.
E é assim que eu curto as minhas férias, dando um tempo a mim mesma, tirando uma soneca no meu casulo. E isso me faz muito bem, porque interagir continuamente com as pessoas e com o mundo em si me sufoca. E, sinceramente, se eu posso escolher não me sentir sufocada, por que eu escolheria algo diferente? Não é uma questão de "aproveitar a vida" porque, na minha concepção dessa expressão (eu realmente não gosto quando as palavras rimam nos meus textos. Não há um motivo exato para isso.), aproveitar a vida não significa, necessariamente, sair "saracotiando" por aí. Não mesmo.
Hum... mas tudo o que escrevi aí em cima fugiu um tanto do propósito inicial desse texto. "Um tanto", eis uma expressão que eu gosto e uso bastante. Mas não vem ao caso. Minha intenção era falar de algo que tenho feito nas minhas férias (na verdade, faço durante o ano todo, mas não com tanta freqüência) que é baixar músicas. E eu tenho descoberto bandas realmente boas (na minha visão - ou melhor - audição - que é o que importa, não é, porque se eu acho bom ou ótimo, pouco me importa que outros achem péssimo e de mau gosto, mesmo que esses outros sejam o mundo todo). E realmente, se eu tivesse que escolher entre nunca mais escutar música e a vida de alguns seres humanos, bem, eu escolheria a música, com alguma culpa, é bem verdade, mas que se desvaneceria facilmente ao ligar o rádio. É por isso que tenho cuidado um pouco mais da saúde dos meus ouvidos. Já me basta envelhecer e carregar junto a minha miopia. Ficar surda seria realmente catastrófico, mas não vou falar mais disso, senão, como diz minha mãe: "Os anjos dizem amém." Não que eu acredite nisso, mas é melhor prevenir do que remediar. Ok, não sei se esse ditado se encaixa bem aqui, mas com ele eu concordo.
Já me perdi de novo. A prolixidade e eu, um caso de amor. Daqueles ardentes.
Eu ia falar um pouco do que tenho escutado e descoberto, mas, no momento, não estou me sentindo muito disposta a fazer isso. É, não tô. Vou escutar "Lua" e lembrar que eu não vi o Conor Oberst. E isso fez com que eu me lamentasse um tanto. Um tanto mesmo.
E talvez mude o layout desse blog, cansei desse verde. Deixando bem claro, não cansei do verde, e sim desse verde. Porque, como alguns sabem, eu sou um abacate ambulante. Falando em abacate, meu abacateiro não se prestou a dar filhotinhos esse ano. E eu me recuso a comprar abacate, não tendo um abacateiro gigante no pátio. Minha mangueira também não dá mangas, mas essa nunca deu mesmo. Que coisa.
Tá, chega.

quinta-feira, junho 19

Apegos

Acordei tarde, cabeça doída e estômago embrulhado. Deve ter sido porque dormi com a cabeça prensada na parede, pensei eu. Minha cabeça achatada contra uma superfície verde cheia de fotos e recortes explicava os sonhos bizarros e a sensação de meu cérebro estar numa torradeira; o pão já queimando.
(Hoje vai ser mais um dia daqueles. Mais um daqueles dias suspensos, em que acordo com a certeza de que serei convencida de que sou uma farsa. Então a farsa vai pôr mais uma pele de mentiras por cima de si e vai sair por aí, a esmo, misturando personagens e histórias.)
Alguém apertou o botão lá fora e um som ruiu por todo o apartamento. Não quero levantar, meu estômago dói, mas o botão parece que grudou na direção do ruído. Pés descalços, o chão melado do doce que derrubei e tive preguiça de limpar. Dificuldade de achar as chaves... sim, estão em cima da geladeira onde ele sempre deixava, não consegui me desapegar do hábito.
-Talvez você não tenha conseguido se desapegar de muitos hábitos, minha amiga. Só passei aqui pra ver como você está... e pelo visto está em pedaços. Já tomou os seus remédios hoje?
(Meds, meds, meds... you are not her but I care about you...)
A personagem mentiu que tudo já estava sendo devidamente metabolizado pelo seu frágil organismo. E após algumas palavras tolas, sozinha novamente fiquei. Sozinha comigo e com os apegos.
Acho que vou me colar na parede. Talvez estando toda lá, não sinta apenas minha cabeça no meio de uma prensa. E talvez - e só um talvez muito incerto - prensada na parede consiga eu esquecer de quem criou todos os meus apegos.

quinta-feira, junho 5

Thursday.

Thursday I don't care about you.

Thursday doesn't even start.

Thursday never looking back.

Oh thursday watch the walls instead.

And it's not friday and I'm not in love.


The Cure me amacia.

segunda-feira, maio 19

Ring Ring

"I was sitting on the fence
And I thought that I would kiss you
I never thought I would've missed you
But you never let me fall
Push my back against the wall
Everytime you call, you get so emotional
I'm freaking out."


Ainda vomitando uma certa mediocridade. Ou regurgitando, apenas. Sei lá.
Coisas de Musca domestica.
E cantarolando e balançando os pezinhos por aí.

terça-feira, maio 13

Simulacro

Frustração.
Não sei se há um sentimento que me faça tão mal quanto esse.
Talvez a sensação de mediocridade.
Mas a mediocridade é a causa da frustração. Pelo menos da minha.
E essa cabeça pesada, esse choro contido, essa vontade de sair correndo antes que tudo vire uma confusão são conseqüências - merecidas - de tudo isso. De toda essa mesmice, de toda essa autodecepção, de toda essa incapacidade de fazer direito o que eu sou capaz.
E não há palavras ensaiadas e conselhos clichês que façam com que eu me sinta melhor.
E enquanto eu me enraízo cada vez mais para evitar satisfações, mais e mais eu faço parecer que está tudo bem, quando o meu positivismo, é, na verdade, uma grande e nojenta piada.
E embora eu esteja realmente cansada disso tudo, eu finjo que tudo não passa de sono e mau-humor. E me auto-ironizo como, se assim, eu pudesse aliviar um pouco dessa estranheza tão conhecida que sinto em relação a mim mesma. Mas não alivia. Não mesmo.


(desconsiderem)

quinta-feira, maio 1

skinny like a model

- Ela é magra como uma modelo.
- Quem?
- A menina que eu amo. Quer ver uma foto?
- Quero.
(...)
- Ela é realmente magra.
- E linda... e muito inteligente. Muito mais do que pensei que fosse ao vê-la pela primeira vez.
- Se ela é tão inteligente assim, chega a ser um insulto. Bela e sábia. Acho que se só fosse permitido ser um ou outro, o mundo seria diferente... não digo mais justo, mas menos fútil.
- Talvez... mas não acho que o mundo seria tão diferente assim... Apesar de bela e sábia, ela não é feliz.
- Não é?
- Não, pelo contrário. Acho que é uma das pessoas mais tristes que conheci. E foge do meu alcance entender o porquê disso e ser bem sucedido nas minhas tentativas de fazê-la feliz.
-Pegue. Não quero mais olhar a foto dessa menina bela, sábia e infeliz. É muito pesaroso.
- Também o é para mim. E o menino que você ama, como ele é?
- Ele é magro como um modelo. Quer ver uma foto?


Ambos eram magros como modelos. E amavam-se. Ela era a menina que ele amava e ele era o menino que ela amava. Mas, naquele momento, a menina e o menino que amavam eram uma terceira pessoa sobre quem eles falavam como se não fossem eles mesmos. E, talvez, não fossem mesmo.



"You're looking skinny like a model with your eyes all painted black
Just keep going to the bathroom, always say you'll be right back
Well, it takes one to know one, kid, I think you've got it bad
But what's so easy in the evening by the morning's such a drag."


sexta-feira, março 28

We are nowhere and it's now...

"-Ela parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém. (...) Um garoto com quem cruzou em algum lugar e sentiu que eram parecidos.
-Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
-Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
-E ela? E a bagunça da vida dela? Quem vai pôr ordem?"


14:30
Numa rua amarela-acizentada, dois estranhos se deparam e se olham por alguns segundos. Ela, garota-querida-filha-idiota, perturbada por lembranças. Ele, garoto-querido-filho-babaca, perturbado por angústias. Entram no mesmo prédio. Mesma hora, salas diferentes.

Olhos borrados, cabelo sujo e molhado, roupa e pele exalando cheiros que não são meus. Cansei de cantar glórias pela minha baixeza. E me alertaram. Não seja boba, não continue mentindo pra você mesma que o amor é sempre cruel. Eu tenho agido como uma estranha, eu tenho sido uma estranha.
E então, garota, me diga onde você está agora? (porque você e eu não estamos em lugar algum).
E então, querida, me diga onde você está agora? (mas se não me disser, tudo bem, minha conta bancária vai aumentar independente do seu monólogo ou do seu silêncio.)
E então, minha filha, me diga, por favor, onde você está agora? (porque você nasceu de mim e é minha obrigação lhe ajudar - ou pelo menos fingir que me importo).
E então, sua idiota, onde está você nesse seu mundinho amarelo? Onde estou, onde estou?

E tudo se vai. Mesmo com a barreira, as lembranças continuam lá, não é garota-querida-filha-idiota? E num fluxo contínuo passam pela sua cabeça e lhe perturbam até mesmo quando você está comendo um sanduíche no bar da esquina.

Garota, você não está em lugar algum. (e faria alguma diferença se estivesse em algum lugar?)
Querida, você não está em lugar algum. (seria bom se, na próxima consulta, você trouxesse o pagamento do mês!)
Minha filha, você não está em lugar algum. (e talvez parte da culpa seja minha... mas uma parte muito ínfima. Mesmo.)
Sua idiota, você não está em lugar algum. (e o seu mundinho se desmorona todo como um sorvete de banana num dia quente de verão.)



Olhos ardidos, cabelo desarrumado e mal cortado, roupa e pele exalando cheiros que não são meus. Estou exausto de contar minhas vilezas como se delas me orgulhasse. E me avisaram. Não seja tão mesquinho, pare de interpretar a vítima de um amor que nem sempre é cruel. Eu tenho agido como um estranho, eu tenho sido um estranho.
E então, garoto, me diga onde você está agora? (porque você está no meu coração... por essa semana, pelo menos.)
E então, querido, me diga onde você está agora? (porque sua consulta está quase terminando e eu preciso encontrar minha amante.)
E então, meu filho, me diga, por favor, onde você está agora? (porque não faço nada além de cuidar de você... e não posso fracassar nisso também.)
E então, seu babaca, onde você está nesse seu mundinho acizentado? Onde estou, onde estou?

E nada do que ele faz parece ser suficiente para fazer a angústia ir descarga abaixo. Nada é constante. E você não tem conseguido dormir á noite, não é garoto-querido-filho-babaca? E mesmo quando tudo está calmo, como num susto, aquela angústia aparece e tira a graça de se remexer ao som de "doom da da di da di doom" num lugar qualquer com uma companhia qualquer.

Garoto, você não está em lugar algum. (irei chorar um coração partido mas amanhã já terei seguido em frente.)
Querida, você não está em lugar algum. (será que ela vai mesmo se separar pra ficar comigo? Garoto idiota, vem aqui e não fala nada!)
Meu filho, você não está em lugar algum. (e talvez eu realmente seja um fracasso em tudo que faço. Como posso exigir algo diferente de você?)
Seu babaca, você não está em lugar algum. (e o seu mundinho acizentando entra em colapso assim como uma criancinha perdida dos pais em um supermercado.)


15:40
Fim da consulta.
Esperam, lado a lado, o elevador. Mentalmente, perguntam-se: "Onde estará ele/ela agora? Será ela/ele tão parecido comigo quanto parece ser?"
Térreo.
A garota-querida-filha-idiota vai para a esquerda, rumo à sorveteria.
O garoto-querido-filho-babaca toma o caminho da direita, rumo ao supermercado.
Não olham para trás. Não seria o mesmo que olhar para lugar algum?


Jamais se encontraram novamente.
O destino é um escárnio.
E o disco deles está arranhado na mesma parte, da mesma música.


"But if you stay too long inside my memory
I will trap you in a song tied to a melody
And I will keep you there so you can't bug me."





domingo, março 16

(3) Peças Perdidas

Henrique já estava lá quando Lívia chegou. Ele continua o mesmo, pensou ela. Um pouco envelhecido, é verdade, mas, ainda assim, o olhar é o mesmo daquele Henrique que eu tanto amei. Silenciosa, sem nenhum olhar ou sequer uma palavra, postou-se ao lado dele naquela sala apinhada de pessoas - algumas com rostos conhecidos que a faziam lembrar de um passado que ela sempre quis esquecer... mas que nunca conseguiu.
- E então, como foi que você ficou sabendo?
- A irmã dele me ligou. Ela achou que eu deveria saber. E você?
- Eu li no jornal. E decidi vir, mesmo sem ser convidado. Bem, acho que não existe convite pra essas coisas, não é? Ainda mais quando anunciam no jornal... quando tornam público assim.
- Ele se tornou uma pessoa pública, você bem sabe. Uma pessoa influente, importante pra sociedade. Se fosse com a gente, isso aqui estaria vazio.
- É, eu sei... mas pelo jeito você continua se subestimando, não é? Você sempre pôs tudo a perder com essa sua mania estúpida de inferioridade. Você sempre o venerou, sempre o achou melhor do que a gente.
- Eu estou apenas comentando que ele conseguiu o que queria. Ele se tornou uma pessoa importante. Eis tudo. E também não pretendo ficar discutindo as suas opiniões sobre mim. Nem sei por que estou aqui do seu lado agora. Não sei por que ainda insisto em me colocar nessa situação.
- Você sabe muito bem porquê. Você não consegue nem sustentar o olhar quando conversa comigo. Nem após todos esses anos... me diz, você se arrependeu alguma vez?
- Eu não entendo a relevância dessa conversa agora. Se eu me arrependi alguma vez? É óbvio que sim, todas as decisões difíceis tomadas na minha vida me atormentaram com um "e se..." em algum momento. Mas é aquela história, o tempo não volta.
- Que merda, Lívia, você continua com esse conformismo barato. O tempo não volta... é, não volta mesmo. Mas a gente podia ter feito algo, não acha? Sim, eu sei que nada seria como antes... mas talvez fosse até melhor. Você chegou a parar pra pensar nisso em alguma momento dessa sua vidinha cômoda e medíocre? O que poderia ter sido? Nós três...
- É incrível como você simplifica as coisas, Henrique! E o que a gente podia ter feito, me diz?
- Não sei, isso é algo que a gente teria descoberto juntos. Isso é algo que você poderia me dizer se contasse o que realmente aconteceu naquele dia em que você bateu na minha porta e me mandou esquecer que o Fabrício tinha feito, em algum momento, parte da minha vida.
Lívia olhou pra Henrique e, por uma fração de segundo, compreendeu o que ele quis dizer. Mas essa compreensão evaporou-se rapidamente quando ela contemplou o rosto calmo e bonito de Fabrício. Não, eles não poderiam ter descoberto juntos. Não, ela não poderia contar o que tinha realmente acontecido.
- Eu só queria não ter essa sensação entende? Eu nunca pensei que o "tarde demais" fosse acontecer. Não com a gente. Não comigo e com o Fabrício.
Novamente, por uma fração de segundo, Lívia compreendeu Henrique. Até ensaiou um gesto de carinho, mas ele dissolveu-se no ar quando ela contemplou, mais uma vez, o rosto calmo e bonito de Fabrício. Realmente, era tarde demais.
- Eu liguei pra ele há uns dois anos. Era meu aniversário e eu estava cansado de esperar que ele fosse me ligar, me procurar, sei lá... Disse pra ele que eu sentia muito por ter agido daquela maneira, por ter exigido uma atitude mais concreta dele. Por ter xingado ele de covarde. Ele ficou em silêncio enquanto eu falava por uns vinte minutos. Porra, era uma ligação internacional, e eu sempre fui um falido, cê sabe. Mas ouvir "eu também sinto saudades" no final da ligação fez tudo valer a pena. E não estou falando só do custo daquela ligação... tô falando daquilo que tínhamos.
-Você é um sonhador, Henrique. Você sempre traçou grandes planos, mas sem ambição. Viajar o mundo sem compromisso, aproveitar a juventude... você, eu e Fabrício. Sabe, eu acho que eu realmente teria gostado se tivesse dado certo. Nada mais me importava no mundo além de vocês dois. Um quebra-cabeça de três peças, lembra? Mas o Fabrício, apesar de ás vezes ser o mais empolgado, queria estabilidade. Ele planejava, brincava... mas pra ele era só sonho. Ele era inteligente demais pra sair por aí feito um aventureiro. Ele sempre foi "o rapaz de futuro brilhante". E nós dois... acho que de qualquer maneira, não teríamos feito parte desse fututo brilhante.
Henrique achava que Lívia estava completamente errada, mas se sentia triste e cansado demais para discutir isso com ela. É claro que eles faziam parte do futuro brilhante de Fabrício. E por que não fariam? Ele se recusava a acreditar que Fabrício os rejeitaria algum dia. Era ele quem tinha fugido, era ele que tinha sido o escolhido pra ir embora. Era ele quem tinha aceitado partir, quando, na verdade, deveria ter insistido em ficar.
- Por que vocês não deram certo? Eu tinha certeza que vocês iam se casar, que tudo ia ser feito como a gente tinha decidido que ia ser... eu deixei o caminho livre pra vocês dois, Lívia. Eu abdiquei de estar junto de vocês, eu sabia que ia ser melhor assim, ia ser o certo pra carreira do Fabrício. Nos dois anos que a gente passou juntos depois disso, em nenhum momento você me contou o que tinha dado errado no nosso plano. Eu preciso saber, Lívia...
Uma movimentação começou no local. As pessoas começaram a ser direcionar pra algum outro lugar, dois rapazes vestindo a mesma roupa se aproximaram de Fabrício e o retiraram dali, pedindo, timidamente, licença a Lívia e Henrique, que estavam extremamente próximos de Fabrício... tão perto e tão absortos na conversa que nem reparam nos olhares espantados e de reprovação que recebiam.
- Lívia, a missa vai começar. Henrique, tudo bem?
Henrique ficou paralisado ao ouvir aquela voz. Continuava doce, mas trazia um certo tom que o desconcertava. Virou-se, temendo encarar as duas ao mesmo tempo.
- Luíza, acho meio complicado dizer que está tudo bem nessa situação.
- É mesmo. A cerimônia vai começar. Sintam-se á vontade pra acompanhá-la. Mas não esperem que eu chame vocês pra prestar alguma homenagem.
Lívia e Henrique, sem se olharem, seguiram Luíza. Engoliam aquelas palavras ácidas com dificuldade.
-Lívia, você vai me contar o que deu errado entre vocês dois? Se tivesse dado certo, tudo teria sido diferente.
-Não acho que teria sido tão diferente assim, Henrique... mas se você precisa tanto saber, eu te conto depois da cerimônia.
Aliviado e, ao mesmo tempo, preocupado, Henrique entrou na capela. Finalmente, iria saber por que as três peças daquele quebra-cabeça não tinham se encaixado.

terça-feira, fevereiro 26

Assunto: blábláblá...

Rotina. Semana que vem, volto a ela.
Na época de cursinho, tive que fazer uma redação sobre rotina. O ponto principal era se posicionar contra ou a favor se ter uma rotina. Minha posição era o meio termo, mas ter uma opinião "em cima do muro" não era um ponto a favor no vestibular. Tive que me posicionar, então. Creio que escolhi a favor da rotina, por tornar a vida mais organizada e blábláblá... embora um pouco monótona, isso dependendo de muitos fatores, obviamente . Bem, não era a minha opinião de verdade, já que eu não tinha exatamente uma opinião formada sobre malefícios e benefícios da tal rotina. Mas isso não vem ao caso. Não sei bem o que vem ao caso agora, na verdade. Muitas coisas, acredito.
Aquela frase clichê é realmente verdade, não é? "A vida é feita de escolhas..." Eu sei quais escolhas eu fiz pra minha vida, mas não sei muito bem no que elas foram baseadas. A verdade é que eu detesto escolher. Detesto decidir, mas me sinto profundamente importante quando tomo alguma decisão. É como se a cada escolha eu crescesse um pouquinho. Mesmo assim, algumas vezes, ter que escolher é uma maldade. É como se fosse um castigo sabe-se lá de quem.
Escolher, decidir, escolher, decidir. Tudo se resume a isso, não é?
Mesmo quando se escolhe não se escolher se está escolhendo. (!?)
Eu decidi não escolher em muitos momentos da minha vida. Geralmente nos assuntos menos práticos, naqueles que dizem respeito a quem sou e a quem quero ou gostaria de ser.
Pensei muito antes de escolher me posicionar favorável á rotina naquela redação há algum tempinho. E continuo pensando muito antes de tomar certas decisões, mesmo que às vezes eu aja por impulso motivada principalmente por uma preguiça de pensar e ponderar.
E mesmo que o "e se..." martele por longos momentos na minha cabeça quando eu resolvo reavaliar algumas das minhas escolhas, é assim que vai continuar sendo.
Pensar, ponderar, pensar, ponderar, pensar e, por fim, decidir.



Hum, reparei que não tenho certeza se pontuei corretamente o título do texto abaixo. Não lembro direitinho essas regras de título e tal... se alguém souber me dar um veredito sobre o meu título, não se reprima!



Foto um tanto tosca, mas que captura um dos melhores momentos do meu dia. São muitos os que não entendem todo esse afeto pelos animais, em especial pelos meus cachorros. Tem gente que acha esquisito ficar apertando, cutucando, cheirando e esmagando seres não humanos. Tem gente que acha até mesmo doentio. Já ouvi coisas do tipo "você faz veterinária porque é uma pessoa carente". Não é isso e, mesmo que fosse, é muito mais que isso. Eu não sei descrever o quanto significa e o quanto me faz bem todo esse carinho. É apenas algo que eu sei e sinto e é uma das coisas mais definitivas da minha vida. Talvez seja realmente uma loucurinha, é verdade, mas dela não abro mão. E não acho que algo possa mudar isso.

Ela, contradição.


Ela ia e vinha com aquele vestidinho verde musgo desbotado de sempre. Nunca mudava, era sempre a mesma cena: eu ali parado, pensando em nada ou entretido em alguma conversa, e ela indo e vindo, passando por mim com um ar de displicência e carregando o meu olhar em seu encalço. Como és previsível! pensava eu... E como és irritantemente encantadora! Era exatamente isso, aquela garota de cabelo ruivo cintilante me fascinava de tal maneira a me deixar irritadiço por dias. E tudo nela era gritante demais... os olhos grandes como que num susto eterno, o nariz pequeno e delicadamente desenhado que causava um contraste enorme com o resto do rosto, a boca grande sempre disposta em um sorriso que era um misto de inocência e malícia... O gritante sempre me inquietou, sempre me causou uma certa ojeriza misturada com uma atração inexplicável... e todos os meus sentimentos e sentidos por ela eram uma contradição atrás da outra... A contradição era o meu vício, me levava a ciclos e mais ciclos nem um pouco saudáveis. Aquela garota ruiva do sorriso ingênuo-debochado personificava a contradição como mais ninguém era capaz. E eu sabia que, se num momento de fraqueza, deixasse ela entrar em minha vida, estaria perdido. Pessoas como ela não entravam na minha vida, era simples assim. E nada me era mais desconcertante do que admitir que eu não sabia lidar com alguém tão irradiante assim, logo eu, que sabia tantas coisas.


Irritadiço. Viciado. Perdido. Desconcertado. Eis o que sou hoje.
E ela continua indo e vindo com aquele vestidinho verde musgo desbotado de sempre.


"(...) como pode algo se originar do seu oposto, por exemplo, o racional do irracional, o sensível do morto, o lógico do ilógico, a contemplação desinteressada do desejo cobiçoso, a vida para o próximo do egoísmo, a verdade dos erros? "

sábado, fevereiro 9

Falling in love at a coffee shop.

- Uma boa notícia. E o nosso café bem forte e quente de sempre. Só isso.
Olhando pela janela do hotel imundo e barato, Marcele passava os dedos pela cortina mofada, tentando esconder sua aflição. Mexia incessantemente no cabelo, alisava a blusa, tocava, enojada, naquela cortina mal cosida que a escondia do mundo - agora tão sombrio - lá fora. Tinha acordado, naquela manhã fria e pouco aconchegante, com uma sensação esquisita (não era pressentimento ou intuição; Marcele não tinha dessas coisas), com uma angústia que revirava seu estômago e deixava seus olhos ardidos. E agora estava ali, num lugar que cheirava a mofo e a promiscuidade, sem entender ao certo em que ponto da sua vida tinha se permitido entrar naquela situação absurda e confusa. Teria sido no dia em que tropeçara na própria sorte e escutara sádicas gargalhadas ao seu redor? Teria sido naquele dia em que fizera um corte de cabelo ousado e mudara a maneira como as pessoas a viam? Ou a origem de tudo aquilo estava na sua falta de malícia ao interpretar olhares, gestos e expressões? Mas, como num susto, percebeu que a compreensão não lhe iria adiantar em nada, não agora que era tarde demais. Tudo o que desejava era que Caio chegasse logo trazendo um pouco de café e a notícia de que estava tudo bem ou, então, de que tudo ficaria bem. Mas nada ficou bem. Caio chegou transtornado, batendo portas e chutando móveis, gritando o inegável, que era um fracassado e que tinha perdido o controle da situação. Marcele chorava e se recusava a acreditar no óbvio. O plano tinha sido falho desde o início, mal discutido, mal visualizado no contexto da vida deles... Estavam ferrados, nada parecia mais exato do que isso. Quando a porta foi arrombada, eles lançaram um olhar cúmplice um ao outro, mas dessa vez o trato não seria cumprido. Marcele morreu cinco meses depois, sem nem ter sido julgada. Disseram para Caio que a causa da morte tinha sido complicações no parto, mas, na realidade, foi pura má vontade e negligência médica. Caio viveu mais alguns anos, chegou até mesmo a conhecer o filho, um menino que vivia machucado por tropeçar na própria sorte e que, numa birra de criança, insistia em mudar o corte de cabelo com uma obstinação assustadora pra uma criança que demonstrava não ter malícia alguma. O remorso foi matando Caio aos poucos. Tudo o que Marcele havia pedido naquele dia era uma boa notícia e um pouco de café. Ele havia voltado com uma má notícia; haviam sido, enfim, localizados e não tinham mais como fugir. E quanto ao café... bem, ele havia esquecido do maldito café. E, no contexto da vida deles, isso era imperdoável.

(Marcele e Caio se conheceram numa cafeteria no inverno de um ano qualquer. Naquele dia, tomaram várias xícaras de café bem forte e quente e saíram da cafeteria de mãos dadas, apaixonados. Alguns dias depois, na mesma cafeteria, fizeram um trato: não deixariam que nada nem ninguém interferisse no que sentiam um pelo outro, nem eles mesmos. Um dia, Caio captou malícia nos olhares, nos gestos e nas expressões de um certo rapaz para com Marcele e, cumprindo o trato, não deixou que esse rapaz interferisse no que eles sentiam. Com o tempo, Marcele e Caio perceberam que por mais que confiassem na solidez do amor deles, ameaças e tentações sempre existiriam. Então, toda vez que conheciam alguém potencialmente ameaçador, lançavam um olhar cúmplice um ao outro e cumpriam o trato firmado na cafeteria. Esse mesmo olhar foi repetido inúmeras vezes, sempre após uma xícara de café bem forte e quente, até o dia em que foram descobertos. No impulso de proteger o amor, deixaram vários rastros que contribuíram para que fossem facilmente identificados como os responsáveis por aqueles desaparecimentos e mortes que aterrorizavam a pequena cidade com uma cafeteria ao centro. Naquele hotel imundo e barato, Marcele se perguntou em que ponto de sua vida tudo aquilo tinha começado. A resposta está naquele inverno de um ano qualquer, Marcele.)


texto escrito em dezembro de um ano qualquer, entre uma xícara e outra de um café bem forte e quente, ao som de Landon Pigg - Falling in love at a coffee shop.





Ando meio sem inspiração para escrever. Hoje, numa intensidade maior que a costumeira, estou irritadiça. Várias pequenas coisas têm me aborrecido. Pequenos detalhes numa conversa, numa situação, num planejamento... detalhes pouco significantes, mas que hoje estão assumindo proporções maiores. E hoje aquelas malditas idéias fixas estão mais fixas em mim do que jamais estiveram (mentira, algumas quase tatuagem já se tornaram). São "intentos" tão mesquinhos e fúteis... tá, talvez não sejam isso tanto assim. Mas, no fim, não me acrescentam nada além de frustação e de uma certa sensação de estousendoridícula.


"soon I'll grow up and I won't even flinch at your name"

sábado, janeiro 26

O tal de pra sempre.

- Você disse "pra sempre".
- Hum?
- Você disse "vou te amar pra sempre".
- E daí? Eu te amo mesmo. Que conversa é essa, hein?
- Você não devia ter dito o pra sempre.
- Por que não? Não vai ser pra sempre, nós dois? É assim que tu pensa?
- Nós dois, mesmo que pra sempre, não significa amar pra sempre.
- O que está acontecendo, hein? Tu tá esquisita.
- Eu não acho que você vai me amar pra sempre.
- Por que diabos tu acha isso?
- Não sei bem ao certo... mas me soa tão absurdo amar alguém pra sempre! É pela vida toda, entende? E eu estou falando de amar mesmo, de sentir todas aquelas sensações esquisitas só de ver ou pensar na pessoa que se ama. Ninguém é tão especial assim!
- Então, pelo visto, tu não vai me amar pra sempre.
- Pelo visto não... quer dizer, talvez a gente fique juntos pra sempre. Você sempre vai ser importante pra mim porque você foi a única pessoa que me fez sentir todas aquelas sensações esquisitas misturadas de tal maneira a chegar a doer fisicamente. Mas, por mais que eu tente e insista comigo mesma, não sinto que o meu amor por você será eterno.
- Acho que tu tá confundindo amor com paixão, desejo. Realmente, daqui a alguns anos, a paixão entre nós já não vai ser a mesma... vai ter diminuído, eu imagino. Mas eu vou continuar te amando. Parece absurdo? Parece. Mas eu sei que é assim que vai ser.
- É, talvez... mas... hum... eu nunca disse "pra sempre".
- Por que tudo isso agora?
- Sei lá... é que você nunca tinha dito pra sempre, até ontem... e isso me assustou. Mas é tarde. Não leva muito em conta essas minhas bobagens, tá bem? Boa noite.
- Boa noite. Eu te amo... pra sempre.
- Também amo você.
- Não vai dizer pra sempre?
- Não.

Assim que amanheceu, ela já sabia, com uma certeza e confiança que nunca tivera antes na vida, o que fazer. Naquele dia mesmo, procurou um advogado para tratar da papelada e de todas as questões que envolvem um divórcio. Alegou que Marcos tinha prometido algo que jamais poderia cumprir, mesmo que pensasse que estava cumprindo. Quando contou num desabafo e numa falha tentativa de ser compreendida a história do "pra sempre" ao advogado, ele primeiro riu; depois, percebendo a expressão perturbada da cliente, aderiu ao ditado "com louco não se discute" e começou a preparar a papelada.
Eu, particularmente, não acho Maria tão louca assim.

sábado, janeiro 19

"Real ou irreal?"

Eu me assusto. Eu me perturbo. Eu me aborreço e tento não dar credibilidade a aquela sensação de passado longínquo. Tenho pavor a toda aquela indefinição, a toda aquela falta de certeza sobre a minha vida. Na verdade, são duas sensações distintas que, por si só, deixam-me atordoada. Juntas, elas são capazes de me colocar num estado nostalgia-medo-euforia para o qual eu ainda não encontrei nenhum remédio além de tentar dormir a qualquer custo. Elas raramente me invadem juntas, em um mesno dia ou em um mesmo momento. É difícil e talvez inútil explicá-las. A sensação mais comum, que é a de passado longínquo propriamente, não me causa mais nenhum desespero, apenas me deixa um pouco melancólica. Acontece de repente; sinto que fatos, situações e sentimentos herdados de tudo isso, vivenciados há pouco tempo, estão tão distantes a ponto de me porem em dúvida sobre sua autenticidade. Uma parte de mim tem uma certeza inabalável de que tudo fez, realmente, de algum modo - bom, ruim, ou insignificante -, parte da minha vida e do que sou. Mas há uma outra parte teimosa e traiçoeira que ri de mim como se eu fosse uma grande piada. Uma daquelas piadas ótimas, que no momento em que se vai passá-la adiante, tem-se um ataque de riso que causa ansiedade nos outros e que estraga um pouco a tal piada. E é justamente essa parte que causa um mal-estar que me faz pensar "aquilo aconteceu mesmo ou é fruto da minha imaginação?", então eu fico me perguntando até onde vai a minha sanidade. Na maioria das vezes eu respiro fundo e deixo a outra parte me convencer de que tudo aconteceu mesmo, de que eu existo. Mas, algumas vezes, eu preciso de provas, de algo concreto que me mostre que, sim, há um ano comecei algo totalmente novo, que fui em tal lugar sozinha ou com tais pessoas, que aqueles momentos engraçados-constrangedores-marcantes estão lá, em algum lugar da minha linha de tempo. É nessas horas que eu remexo nas minhas lembranças e a sensação de "real ou irreal" é substituída pela nostalgia. Ainda não aprendi a me agarrar nessas constatações da realidade e, eventualmente, preciso respirar fundo. A outra sensação é mais dominante, me toma por inteiro e só acontece sob certas circunstâncias que não convém elucidar aqui. Causa mais estrago, mais desespero, mais ressaca. Acho que a melhor - e, não necessariamente, a mais exata - palavra pra descrevê-la é incerteza. Uma incerteza cruel, incompreensível; uma droga, no sentido literal da palavra, em seus efeitos. E é realmente difícil me convencer da existência do que estou perguntando freneticamente se existe. "Eles são reais? Há algumas horas atrás, aquela conversa realmente existiu?Por que eu não tenho certeza se aconteceu mesmo?" Pra sair desse transe, só dormindo mesmo. Não sinto que tenha conseguido tornar compreensível essa segunda sensação. Creio que a primeira também não. É a falta de certeza sobre a existência real - e não imaginária ou embriagada - das coisas e das pessoas da própria vida. É o tipo de sensação que só sentindo para saber, por mais clichê que seja.

É a falta de solidez, tanto numa como na outra. Lembranças são imateriais. O abstrato, ao mesmo tempo que me assusta, me atrai. Acho que é por isso que, às vezes, eu escolho não dormir.



"Oh I'm not making a fool of myself,
I said oh I am making a fool of myself."

(mika - same jeans)

quarta-feira, janeiro 16

This is the way you left me.This is the way I left you.

- Ele não mora mais aqui.
Desligou o telefone sem saber ao certo se aquela sensação esquisita que sentia vinha do susto de, inesperadamente, ter escutado aquele nome, ou da lembrança de uma parte sua saindo pela porta, naquele sábado pela manhã, com as malas lotadas, pesadas, repletas dos restos de uma convivência de muitos anos.
Então é assim que vai ser daqui pra frente. Ele não mora mais aqui. Ele não mora mais aqui. Vou ter que aprender a viver com isso. Ele não mora mais em mim. E eu não moro mais nele.

- Eu não moro mais lá.
Pediu licença, queria apenas sair dali, não sabia ao certo se aquele sentimento que o torturava no momento era devido ao constrangimento de ter que admitir, enfim, aquela verdade, ou se vinha do peso que ainda sentia daquelas malas carregadas com dificuldade naquele sábado pela manhã, malas essas que levavam - e, ao mesmo tempo, deixavam para trás - o que sobrou de uma convivência de muitos anos.
Então é assim que vai ser daqui pra frente. Eu não moro mais lá. Eu não moro mais lá. Vou ter que aprender a viver com isso. Eu não moro mais nele. E ele não mora mais em mim.

Eu não moro mais em mim.
Eu não moro mais em mim.

Falando das flores.

Não há um motivo exato para eu estar começando esse blog. Também não há um motivo certo, não há um porquê forte o bastante pra me impulsionar a isso. Sinceramente, acho que esse blog é fruto da mais pura falta do que fazer. Antes (não vou definir esse antes em um espaço-tempo) eu adorava esse ócio, esse fazer nada, mesmo que um certo tédio sempre me acompanhasse e me aborrecesse um tanto. Agora, esse "nada produtivo" me causa remorso. E não é por aquele blábláblá de sentir o tempo escorrendo entre os dedos como falling sand, e sim porque agora eu sinto uma responsabilidade maior pela minha vida. Não sei se foi a correria da vida de universitária que fez com que eu, como num susto, percebesse "aimeudeus estou crescendo", ou se simplesmente eu decidi que eu devo buscar o que quero - e somente eu - apesar de todas aquelas pedrinhas (leia-se nepotismo, troca de favores e tal) pelo caminho.

Pois é, essa é a minha fase: "Vem, vamos embora/Que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora/Não espera acontecer..." Fase essa que me levou a esse blog... ou não.

Não acredito que esse blog vá me levar aonde quero, mas pelo menos pratico um ócio criativo.

Uma maçã pra vocês.