sábado, janeiro 26

O tal de pra sempre.

- Você disse "pra sempre".
- Hum?
- Você disse "vou te amar pra sempre".
- E daí? Eu te amo mesmo. Que conversa é essa, hein?
- Você não devia ter dito o pra sempre.
- Por que não? Não vai ser pra sempre, nós dois? É assim que tu pensa?
- Nós dois, mesmo que pra sempre, não significa amar pra sempre.
- O que está acontecendo, hein? Tu tá esquisita.
- Eu não acho que você vai me amar pra sempre.
- Por que diabos tu acha isso?
- Não sei bem ao certo... mas me soa tão absurdo amar alguém pra sempre! É pela vida toda, entende? E eu estou falando de amar mesmo, de sentir todas aquelas sensações esquisitas só de ver ou pensar na pessoa que se ama. Ninguém é tão especial assim!
- Então, pelo visto, tu não vai me amar pra sempre.
- Pelo visto não... quer dizer, talvez a gente fique juntos pra sempre. Você sempre vai ser importante pra mim porque você foi a única pessoa que me fez sentir todas aquelas sensações esquisitas misturadas de tal maneira a chegar a doer fisicamente. Mas, por mais que eu tente e insista comigo mesma, não sinto que o meu amor por você será eterno.
- Acho que tu tá confundindo amor com paixão, desejo. Realmente, daqui a alguns anos, a paixão entre nós já não vai ser a mesma... vai ter diminuído, eu imagino. Mas eu vou continuar te amando. Parece absurdo? Parece. Mas eu sei que é assim que vai ser.
- É, talvez... mas... hum... eu nunca disse "pra sempre".
- Por que tudo isso agora?
- Sei lá... é que você nunca tinha dito pra sempre, até ontem... e isso me assustou. Mas é tarde. Não leva muito em conta essas minhas bobagens, tá bem? Boa noite.
- Boa noite. Eu te amo... pra sempre.
- Também amo você.
- Não vai dizer pra sempre?
- Não.

Assim que amanheceu, ela já sabia, com uma certeza e confiança que nunca tivera antes na vida, o que fazer. Naquele dia mesmo, procurou um advogado para tratar da papelada e de todas as questões que envolvem um divórcio. Alegou que Marcos tinha prometido algo que jamais poderia cumprir, mesmo que pensasse que estava cumprindo. Quando contou num desabafo e numa falha tentativa de ser compreendida a história do "pra sempre" ao advogado, ele primeiro riu; depois, percebendo a expressão perturbada da cliente, aderiu ao ditado "com louco não se discute" e começou a preparar a papelada.
Eu, particularmente, não acho Maria tão louca assim.

sábado, janeiro 19

"Real ou irreal?"

Eu me assusto. Eu me perturbo. Eu me aborreço e tento não dar credibilidade a aquela sensação de passado longínquo. Tenho pavor a toda aquela indefinição, a toda aquela falta de certeza sobre a minha vida. Na verdade, são duas sensações distintas que, por si só, deixam-me atordoada. Juntas, elas são capazes de me colocar num estado nostalgia-medo-euforia para o qual eu ainda não encontrei nenhum remédio além de tentar dormir a qualquer custo. Elas raramente me invadem juntas, em um mesno dia ou em um mesmo momento. É difícil e talvez inútil explicá-las. A sensação mais comum, que é a de passado longínquo propriamente, não me causa mais nenhum desespero, apenas me deixa um pouco melancólica. Acontece de repente; sinto que fatos, situações e sentimentos herdados de tudo isso, vivenciados há pouco tempo, estão tão distantes a ponto de me porem em dúvida sobre sua autenticidade. Uma parte de mim tem uma certeza inabalável de que tudo fez, realmente, de algum modo - bom, ruim, ou insignificante -, parte da minha vida e do que sou. Mas há uma outra parte teimosa e traiçoeira que ri de mim como se eu fosse uma grande piada. Uma daquelas piadas ótimas, que no momento em que se vai passá-la adiante, tem-se um ataque de riso que causa ansiedade nos outros e que estraga um pouco a tal piada. E é justamente essa parte que causa um mal-estar que me faz pensar "aquilo aconteceu mesmo ou é fruto da minha imaginação?", então eu fico me perguntando até onde vai a minha sanidade. Na maioria das vezes eu respiro fundo e deixo a outra parte me convencer de que tudo aconteceu mesmo, de que eu existo. Mas, algumas vezes, eu preciso de provas, de algo concreto que me mostre que, sim, há um ano comecei algo totalmente novo, que fui em tal lugar sozinha ou com tais pessoas, que aqueles momentos engraçados-constrangedores-marcantes estão lá, em algum lugar da minha linha de tempo. É nessas horas que eu remexo nas minhas lembranças e a sensação de "real ou irreal" é substituída pela nostalgia. Ainda não aprendi a me agarrar nessas constatações da realidade e, eventualmente, preciso respirar fundo. A outra sensação é mais dominante, me toma por inteiro e só acontece sob certas circunstâncias que não convém elucidar aqui. Causa mais estrago, mais desespero, mais ressaca. Acho que a melhor - e, não necessariamente, a mais exata - palavra pra descrevê-la é incerteza. Uma incerteza cruel, incompreensível; uma droga, no sentido literal da palavra, em seus efeitos. E é realmente difícil me convencer da existência do que estou perguntando freneticamente se existe. "Eles são reais? Há algumas horas atrás, aquela conversa realmente existiu?Por que eu não tenho certeza se aconteceu mesmo?" Pra sair desse transe, só dormindo mesmo. Não sinto que tenha conseguido tornar compreensível essa segunda sensação. Creio que a primeira também não. É a falta de certeza sobre a existência real - e não imaginária ou embriagada - das coisas e das pessoas da própria vida. É o tipo de sensação que só sentindo para saber, por mais clichê que seja.

É a falta de solidez, tanto numa como na outra. Lembranças são imateriais. O abstrato, ao mesmo tempo que me assusta, me atrai. Acho que é por isso que, às vezes, eu escolho não dormir.



"Oh I'm not making a fool of myself,
I said oh I am making a fool of myself."

(mika - same jeans)

quarta-feira, janeiro 16

This is the way you left me.This is the way I left you.

- Ele não mora mais aqui.
Desligou o telefone sem saber ao certo se aquela sensação esquisita que sentia vinha do susto de, inesperadamente, ter escutado aquele nome, ou da lembrança de uma parte sua saindo pela porta, naquele sábado pela manhã, com as malas lotadas, pesadas, repletas dos restos de uma convivência de muitos anos.
Então é assim que vai ser daqui pra frente. Ele não mora mais aqui. Ele não mora mais aqui. Vou ter que aprender a viver com isso. Ele não mora mais em mim. E eu não moro mais nele.

- Eu não moro mais lá.
Pediu licença, queria apenas sair dali, não sabia ao certo se aquele sentimento que o torturava no momento era devido ao constrangimento de ter que admitir, enfim, aquela verdade, ou se vinha do peso que ainda sentia daquelas malas carregadas com dificuldade naquele sábado pela manhã, malas essas que levavam - e, ao mesmo tempo, deixavam para trás - o que sobrou de uma convivência de muitos anos.
Então é assim que vai ser daqui pra frente. Eu não moro mais lá. Eu não moro mais lá. Vou ter que aprender a viver com isso. Eu não moro mais nele. E ele não mora mais em mim.

Eu não moro mais em mim.
Eu não moro mais em mim.

Falando das flores.

Não há um motivo exato para eu estar começando esse blog. Também não há um motivo certo, não há um porquê forte o bastante pra me impulsionar a isso. Sinceramente, acho que esse blog é fruto da mais pura falta do que fazer. Antes (não vou definir esse antes em um espaço-tempo) eu adorava esse ócio, esse fazer nada, mesmo que um certo tédio sempre me acompanhasse e me aborrecesse um tanto. Agora, esse "nada produtivo" me causa remorso. E não é por aquele blábláblá de sentir o tempo escorrendo entre os dedos como falling sand, e sim porque agora eu sinto uma responsabilidade maior pela minha vida. Não sei se foi a correria da vida de universitária que fez com que eu, como num susto, percebesse "aimeudeus estou crescendo", ou se simplesmente eu decidi que eu devo buscar o que quero - e somente eu - apesar de todas aquelas pedrinhas (leia-se nepotismo, troca de favores e tal) pelo caminho.

Pois é, essa é a minha fase: "Vem, vamos embora/Que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora/Não espera acontecer..." Fase essa que me levou a esse blog... ou não.

Não acredito que esse blog vá me levar aonde quero, mas pelo menos pratico um ócio criativo.

Uma maçã pra vocês.