sábado, janeiro 19

"Real ou irreal?"

Eu me assusto. Eu me perturbo. Eu me aborreço e tento não dar credibilidade a aquela sensação de passado longínquo. Tenho pavor a toda aquela indefinição, a toda aquela falta de certeza sobre a minha vida. Na verdade, são duas sensações distintas que, por si só, deixam-me atordoada. Juntas, elas são capazes de me colocar num estado nostalgia-medo-euforia para o qual eu ainda não encontrei nenhum remédio além de tentar dormir a qualquer custo. Elas raramente me invadem juntas, em um mesno dia ou em um mesmo momento. É difícil e talvez inútil explicá-las. A sensação mais comum, que é a de passado longínquo propriamente, não me causa mais nenhum desespero, apenas me deixa um pouco melancólica. Acontece de repente; sinto que fatos, situações e sentimentos herdados de tudo isso, vivenciados há pouco tempo, estão tão distantes a ponto de me porem em dúvida sobre sua autenticidade. Uma parte de mim tem uma certeza inabalável de que tudo fez, realmente, de algum modo - bom, ruim, ou insignificante -, parte da minha vida e do que sou. Mas há uma outra parte teimosa e traiçoeira que ri de mim como se eu fosse uma grande piada. Uma daquelas piadas ótimas, que no momento em que se vai passá-la adiante, tem-se um ataque de riso que causa ansiedade nos outros e que estraga um pouco a tal piada. E é justamente essa parte que causa um mal-estar que me faz pensar "aquilo aconteceu mesmo ou é fruto da minha imaginação?", então eu fico me perguntando até onde vai a minha sanidade. Na maioria das vezes eu respiro fundo e deixo a outra parte me convencer de que tudo aconteceu mesmo, de que eu existo. Mas, algumas vezes, eu preciso de provas, de algo concreto que me mostre que, sim, há um ano comecei algo totalmente novo, que fui em tal lugar sozinha ou com tais pessoas, que aqueles momentos engraçados-constrangedores-marcantes estão lá, em algum lugar da minha linha de tempo. É nessas horas que eu remexo nas minhas lembranças e a sensação de "real ou irreal" é substituída pela nostalgia. Ainda não aprendi a me agarrar nessas constatações da realidade e, eventualmente, preciso respirar fundo. A outra sensação é mais dominante, me toma por inteiro e só acontece sob certas circunstâncias que não convém elucidar aqui. Causa mais estrago, mais desespero, mais ressaca. Acho que a melhor - e, não necessariamente, a mais exata - palavra pra descrevê-la é incerteza. Uma incerteza cruel, incompreensível; uma droga, no sentido literal da palavra, em seus efeitos. E é realmente difícil me convencer da existência do que estou perguntando freneticamente se existe. "Eles são reais? Há algumas horas atrás, aquela conversa realmente existiu?Por que eu não tenho certeza se aconteceu mesmo?" Pra sair desse transe, só dormindo mesmo. Não sinto que tenha conseguido tornar compreensível essa segunda sensação. Creio que a primeira também não. É a falta de certeza sobre a existência real - e não imaginária ou embriagada - das coisas e das pessoas da própria vida. É o tipo de sensação que só sentindo para saber, por mais clichê que seja.

É a falta de solidez, tanto numa como na outra. Lembranças são imateriais. O abstrato, ao mesmo tempo que me assusta, me atrai. Acho que é por isso que, às vezes, eu escolho não dormir.



"Oh I'm not making a fool of myself,
I said oh I am making a fool of myself."

(mika - same jeans)

3 comentários:

Unknown disse...

Daiane *.*

Não use drogas!!!
hahahahhahaha
Brincadeira...

Muito bom seu blog!
Temos mais uma escritora talentosa na "eu acho uma merda". \o/

Parabéns.

Ivy disse...

O que te faz procurar o sono me mantém acordada inúmeras noites. ^^

Não queria mais uma vez ser clichê, mas eu me identifiquei. Num texto do Fernando Pessoa, ele fala sobre a arte de (tentar) fazer as pessoas sentirem o que ele sentiu, ainda que não seja exatamente fiel para com suas lembranças ou pensamentos (ok, é algo do gênero, eu dei uma enfeitada).

:)

krobs disse...

Me lembrou uma música...

White Rabbit =P